Aquele foi
um dia especial. A Berenice foi encaminhada a mim por um colega contador, que
lhe passou todas as informações sobre legislação para abrir o seu negócio por
conta própria. Ela era uma mulher alta, com pele clara, longos cabelos pretos,
com um sorriso encantador e uma energia jovem que fluía exuberante de seu
semblante iluminado. Ela queria empreender, mas estava cheia de dúvidas. Ela
era formada em decoração de interiores e me relatou que tinha facilidades para
vendas. Que, aliás, já vendia produtos da Avon e Boticário. Mas o que ela
queria mesmo era trabalhar com suas pedras semipreciosas. Ter o seu negócio por
conta própria com isto. E aí a coisa pegava porque ela tinha dificuldade em
vender os produtos que ela produzia. A dúvida dela era saber se valia a pena
investir naquele negócio e se ela tinha jeito para esta história de empreender.
Para ajudá-la a tomar uma decisão informei que, no Brasil,
existem quatro tipos de empreendedores. Equivalente aos tipos sanguíneos, temos
o empreendedor de sangue azul, tipo A; o empreendedor de sangue vermelho, tipo
B; o empreendedor de sangue amarelo, tipo O, e o empreendedor de sangue azul e
vermelho, tipo AB.
Ela me olhou espantada como quem diz “mas como assim?” e eu
avancei na explicação.
O empreendedor de sangue vermelho é aquele que tem o impulso
para empreender e domina a atividade que vai realizar. Mas entende dela como
entenderia um empregado. Entende de cozinhar (chef), de costurar, de língua
estrangeira, por exemplo. Não entende do negócio em si. Por exemplo, não sabe
como atrair clientes, como se ganha dinheiro naquele setor, como vender, como
criar relações, como criar vantagem via produtividade, como liderar e motivar
equipes, como enfrentar a superar a concorrência e assim por diante. Os
resultados empresariais que eles alcançam são incertos e normalmente estão
muito abaixo do que poderiam obter.
O empreendedor de sangue amarelo é aquele que não entende da
atividade que vai empreender, não sabe de administração de pequenos negócios e
não tem o capital necessário e suficiente exigido pelo negócio. Ele se lança
no mercado com todas as desvantagens contra si. A probabilidade de êxito é
muito pequena.
O empreendedor de sangue azul é aquele que domina os números.
Sabe fazer contas, entende de gestão, tem capital e olha o negócio como um
investimento que tem que retornar multiplicado o mais rápido possível. No
entanto, ele é medroso. Só investe se tiver a certeza de que o negócio vai dar
certo. Como esta certeza não existe, no Brasil, temos pouco capital privado
disponível para investimentos.
E finalmente temos o sangue azul e vermelho. São os
empreendedores natos. Tanto na teoria quanto na prática, uma pessoa realmente
empreendedora, que faz diferença na economia de um país, é uma pessoa capaz de
tocar um empreendimento inovador, com lucros extraordinários e capaz de articular
e atrair o capital necessário e suficiente ao êxito do empreendimento. São
empreendedores deste tipo sanguíneo que estão à frente de marcas conhecidas
como Cacau Show, Ambev e Boticário, por exemplo. Eles conseguem realizar sonhos
grandes com resultados excepcionais.
“E quanto à quantidade referente a cada um deles, perguntou-me”.
Disse-lhe que se pintássemos nossa nação empreendedora com as referidas cores,
veríamos um Brasil colorido predominantemente de amarelo e vermelho, com riscos
de azul e uns raríssimos círculos pintados de azul e vermelho. Estes são mais
raros que o talento de um Pelé.
Ao descrever os tipos sanguíneos de empreendedores, a Berenice
logo se identificou como sangue vermelho e o seu marido como sangue azul. Ele
trabalhou durante anos em um banco e entendia tudo de números. Cada vez que
ela ia comprar algo para a produção de seu negócio, ele quase exigia que ela
fizesse um edital de concorrência. Não demorou muito para ela fazer a pergunta
que pulsava em seu íntimo: “Seria possível transformar uma empreendedora sangue
vermelho, como ela, num sangue azul como o do seu marido? Ou ainda melhor, num
sangue tipo azul e vermelho?” Respondi-lhe que isto simplesmente é impossível,
assim como não é possível trocar o tipo sanguíneo de alguém de B para AB. Mas
pode-se transformar os resultados medíocres de uma empresa de um empreendedor
sangue vermelho, em resultados excepcionais como se a empresa fosse tocada por
um empreendedor nato. Seus olhos brilharam com esta possibilidade e foi logo
perguntando “como eu faço isto?”
É simples, comentei. O que você precisa fazer é se associar a
alguém que acredite em você e em sua proposta de valor, que seja de sua
confiança e que tenha um tipo sanguíneo complementar ao seu. No seu caso,
conforme o seu relato, o seu marido pode ser o sócio com sangue azul que lhe
falta. Ela levou um choque, pois não era esta a resposta que esperava.
Disse-lhe que o marido foi dado como exemplo, mas que ela poderia buscar outra
pessoa. O importante era compreender que sozinha ou associando-se a outra
pessoa de mesmo tipo sanguíneo vermelho, a possibilidade de prosperidade era
pequena, pois estaria ausente o fundamental papel do sangue azul de investidor
e investimentos, que sempre busca resultados desproporcionais aos esforços.
Por isso ela deveria decidir: se quisesse pensar grande e
colocar uma empresa com crescimento sempre contínuo, deveria antes, buscar um
sócio com sangue azul.
Nenhum comentário:
Postar um comentário